terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dorian e Narciso


Fiquei curiosa e um tanto empolgada por ler O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Algumas pessoas disseram que era um bom livro, intrigante, e eu acreditei. Fiquei imaginando o que teria no retrato de Dorian pra ser tão importante a ponto de ter acarretado no título do livro. Depois de um semestre conturbado, cheio de intrigas e acessos de raiva (oh, sim! infelizmente...), mas também cheio de aprendizado, peguei este livro emprestado da minha colega para conferir se é assim tão extraordinário. O livro tem 180 páginas do texto do autor, mais algumas outras sobre a vida dele, prefácio e a história da leitura e importância de ler. Destas, estou ainda na página 122 (capítulo 11). Apesar de não ter lido tudo, consideremos que faltam apenas 58 páginas, menos de 1/3 para eu ler.

Quando leio um livro, não me detenho muito nos começos ou nos finais. Dá sempre pra prever como acabará um livro, assim como numa novela. Se você formular algumas hipóteses, provavelmente acertará, e se não acertar, parabéns ao criativo autor, estimulador das mentes previsíveis. O fato é que, o que prende os leitores são as tramas, o que decorre entre o início e o fim, o que faz com que eles continuem lendo ou não, com que sejam estimulados a criar hipóteses para o final (mesmo que previsível) que pode ainda surpreender.

Digo que estou na página 122 e ainda não encontrei motivos para continuar minha leitura. Dorian Gray, jovem tão seduzido por si mesmo e pela adoração que têm por ele e, nada encantador. Persisto, provavelmente termine de ler, mas não consigo entender a causa de o terem elogiado. Não me contive, por isso li a página final para saber se teria alguma reviravolta. Tentei imaginar, então, o que haveria no desenrolar da história para me encantar... Talvez isso poderá acontecer no último capítulo, mas não creio muito. Já gostei muito das frases soltas do Oscar Wilde que encontrei por aí, mas o que terá acontecido a Dorian Gray? É claro, cada pessoa tem a sua leitura de  uma obra de arte, seja de qual espectro for, por isso me defendo dos que possam criticar a minha opinião. No entando, realmente, estou desmotivadíssima para continuar a leitura.

Só encontrei graça ao ler, ná página 112, o que Basil fala a Dorian sobre seu desejo inicial de o retratar como alguma figura importante e imponente na história. Basil dizia ter pensado em retratar Dorian "curvado à margem de um lago silvestre da Grécia, a mirar na prata silenciosa das águas o seu rosto maravilhoso...", que se assemelha bastante ao mito de Narciso, que apaixonando-se pela sua própria imagem refletida no rio e desprezando as jovens mulheres que lhe dedicavam seu amor, morreu por não conseguir se desvencilhar de si mesmo.

Assim é Dorian, até onde vejo. Um jovem que se deixa influenciar pelas palavras de um "amigo" e se convence de que é perfeito, não merece ser desapontado e precisa da adoração das outras pessoas. Humilha uma jovem, o que a leva a cometer suicídio e o faz se sentir maravilhosamente bem por ter alguém morrido por ele, digno de uma grande obra, como a de Shekespeare, Romeu e Julieta. Por conta desse ato de crueldade, o retrato de Dorian feito por Basil começa a ter sua feição modificada, marcada por cada sentimento ruim que permeia sua alma. O que, nisto, é digno de ser tachado como uma grande obra, tamanha que levaria o título de uma das melhores do autor? Se não for muito incômodo, me respondam.


Gosto de ler, gosto de boas leituras, não importando que sejam ou não fictícias. Porém, gosto de me envolver no que leio. O retrato de Dorian Gray é permeado por filosofias e desconstruções da moral e da profundidade das relações humanas, não permitindo que eu me coloque na posição do personagem e sinta algo parecido ao que ele "sentiu". Talvez seja este, realmente, o objetivo do livro, a crítica que o autor coloca - relações  envenenadas pela falta de amor ao outro e impossibilidade empática -, mas como literatura não capta a minha atenção. Segundo a própria frase do autor, "os livros são bem ou mal escritos.", e este não me deixou claro, pelo menos à 58 páginas do final, o que ele quer com toda essa enrolação.


Enfim, espero finalizar e chegar a algum lugar que não o desgosto de ter lido as 180 páginas tão aclamadas sem prazer nenhum. De que servem os livros senão para nos envolver e transportar a lugares inóspitos e empolgantes que nos deixem sem vontade de voltar?


Quando terminar de ler, aviso se a minha decepção foi total ou se se despedaçou no final da narração.


Um comentário:

Lidiane Ferreira disse...

Oi, Kah!
Gostei muito do seu comentário sobre esse livro.
Comecei a lê-lo - pelo computador, diga-se de passagem - e acho que nem cheguei à página 80.
Também não achei lá muito interessante, mas talvez tenha sido por conta de ler pela tela - coisa que não gosto muito.
Realmente é um livro muito aclamado, mas as poucas páginas que li também não me deixaram empolgada.

Depois compratilhe conosco suas impressões ao fim da leitura. Pode até ser decepcionante, mas creio que nenhuma leitura é em vão... por mais chata que ela seja.

Beijos!